Eu sempre fui mais cheinha, desde o tempo do colégio. Lembro
que via minhas colegas na educação física com as pernas a mostra enquanto que
eu procurava disfarçar as minhas coxas por serem mais grossas. Imaginava que
com o passar do tempo eu teria o corpo mais definido. Passou esse tempo e após
engravidar, engordei ao ponto de as pessoas pensarem que estava grávida de
gêmeos. Minha saúde nunca foi afetada, nunca me senti excluída, discriminada.
Mas não estava confortável com a situação. Entristecia-me quando via uma roupa
numa vitrine e ao perguntar pra vendedora, ela já me adiantava que não sabia se
tinha meu tamanho. Comprava igual, algo que me servisse, mais pra alimentar meu
ego do que pra mostrar que estava fora dos padrões. O importante para mim era
que dissessem que eu não estava nem aí. Fiz uma reeducação alimentar com
orientação médica acompanhada de acupuntura. Consegui eliminar 23 kg, estava então com 75 kg. Foi a glória,
caminhava todos os dias por uma hora pela manhã, inclusive no inverno com
temperaturas de até 8°C.
Eu via meu peso baixar e me sentia realizada. Saia com amigas para dançar, me
divertia muito, satisfeita com os resultados que apareciam dia após dia. Isso
por um ano e meio. Tive alta do tratamento com a promessa de conseguir conter
minha ansiedade e manter meu peso. Cheguei até a consultar um cirurgião
plástico para dar o golpe de misericórdia no meu visual. Imagina! Leve, e com o
corpo que pedi a Deus. Mas o médico me aconselhou a perder mais alguns
quilinhos para um resultado mais satisfatório. Sai da consulta resolvida a
deixar as coisas assim como estavam. Anos passaram e relaxei. Engordei de novo,
abandonei as caminhadas, e quando me dei conta estava adquirindo os quilos que
achava que não os teria mais. Amigas minhas estando insatisfeitas, algumas com
outros problemas associados ao peso, fizeram a cirurgia bariátrica. Eu as vi perderem
peso visivelmente muito rápido. Conversávamos e me diziam o quanto estavam bem,
mas que não era fácil. Havia certos cuidados que eram necessários, não podiam
descuidar. Porque a cirurgia não era um milagre, uma opção que teria que ser
muito bem pensada, pois era uma decisão pra vida toda. Eu não me imaginava
passar por uma cirurgia dessas. Achava que poderia ir por outros meios para
conseguir o peso desejado. Dietas milagrosas, chás, comer mais frutas, tomar
mais água, alimentos com mais fibras, enfim, os pensamentos mais comuns de quem
estão nessa situação. Pra mim, cirurgia nem pensar! A partir desse ano (2012)
meu pensamento mudou. Em janeiro resolvi fazer uma série de exames pra saber
como estava minha saúde. Tinha férias marcadas para o carnaval. Consultei um
cardiologista que me pediu um check up geral. No meu exame de esteira quase
“pus meu coração pela boca”. Mesmo assim ainda não foi dos piores, mas serviu
para alimentar idéias. Cogitei com o médico a intenção de fazer a cirurgia
bariátrica. Mas não senti firmeza na resposta dele. Pediu para pensar mais a
respeito, não tomar uma decisão tão precipitada. O calor, meu peso, tudo ajudou
pra que meus pés inchassem a ponto de não calçar nenhuma das minhas sandálias e
tamancos de saltos que levei pra viagem. E o pior, num pequeno acidente tive
uma luxação no pé direito, acabei com uma tala de gesso pra arrematar. Voltei,
não pude retornar ao trabalho, tirando a tala depois de quinze dias. Me afastei
por três meses e meio. O tempo que fiquei em casa me recuperando fez com que
aumentasse meu peso. Comia fora de horário. Eu não saia pra nada, só da cama
pra cadeira ou nos dias da fisioterapia. Nas minhas consultas com ortopedista,
a médica me disse que uma luxação deixaria meu pé com esse inchaço por muitas
vezes seguidas. Me estimulou a caminhar, assim além de exercitar o pé, faria
reduzir meu peso. Mesmo no dia da perícia, eu temia pela minha volta ao
trabalho. Estava gorda, e frustrada. Nem eu mesma me reconhecia. Meu marido me
incentivava que voltar seria melhor, que eu normalizaria meu peso me ocupando
novamente. Fui liberada a trabalhar, mas a idéia da cirurgia estava cada vez
mais certa que poderia acontecer. Trabalhando dia após dia, nos finais de
semana procurava me distrair. Festinhas com amigos, com a família. Mas a
situação não estava me agradando. Quando conheci meu marido, Julio Cesar, em
2011, tinha saído para dançar com amigas. Parecia feliz, cabelo sempre bem
tratado, me sentindo de bem com a vida, mas não estava (apenas aparências). Minhas
roupas não me serviam. Nada em mim ficava bem. Revirava o roupeiro em busca de
algo que nem eu mesma sabia o quê. No fundo eu sabia. Estava em busca do
resgate da minha imagem e auto-estima. Comecei a pesquisar e ler mais sobre a
cirurgia bariátrica. O fantasma que eu mantivera distante estava mais próximo agora.
Recebi indicações de profissionais que faziam a cirurgia, mas decidi por alguém
que julguei com mais experiência, credibilidade e competência no ramo: Dr.
Paulo Sandler que me recomendou ao Dr. Manoel Trindade. Marquei consulta para
tirar dúvidas e fazer uma avaliação do meu caso. Meu peso estava dentro dos
parâmetros necessários para realizar a cirurgia: 103,3kg. Conversamos me
explicou além de outras coisas, que optando por esse caminho deveria estar
ciente de que teria que fazer acompanhamentos médicos, que a cada passo dado
seria um passo de cada vez, que seria uma decisão para a vida toda, que teria a
plena consciência de estar fazendo algo pela minha saúde. Seria uma mudança de
vida e teria que estar preparada para isso. O principal é que o paciente tem
que se ajudar. Me solicitou alguns exames complementares: Eco cardiograma, eco
abdominal, rx pulmonar, endoscopia, sangue, urina e fezes. Fiz todos eles com a
maior brevidade possível, pois estava ansiosa pelos resultados e decidida no
rumo que ia tomar. Com os resultados aptos e indicativos para a cirurgia,
partimos para a liberação pela UNIMED. Nova espera. Nova expectativa. Novamente
a ansiedade e nervosismo. Mais uma semana e mais motivada eu estava. Como norma
para liberação pelo convênio, precisava de mais laudos de três especialistas:
endocrinologista, psicólogo ou psiquiatra e nutricionista. Esse último,
incrível, era o que me parecia ser o mais fácil, foi o mais difícil, por ser
necessária a indicação de outro para marcar a consulta. Enfim, com os laudos em
mãos, entreguei ao setor de internação a fim de ser marcada a cirurgia. Foi
marcada a perícia do convênio para o dia 05/09/2012, às 16h. Na data e hora
mencionada, lá estava eu mais esperançosa e cheia de expectativas do que nunca.
Para alívio, o médico que me atendeu, reconheci do Hospital de Clínicas no
tempo que era residente. Perícia aprovada, mas ainda assim me solicitaram o
laudo da ortopedista que havia me tratado, já que o motivo que me levou a
autorizar minha cirurgia seria dores na coluna e articulações. Foi uma
peregrinação, mas com sucesso. Encaminhada para autorização do procedimento à
atendente Maria, que para minha surpresa, também conhecida de outra empresa que
havia trabalhado anos anteriores. Tudo conspirava a meu favor. Definidas datas
de baixa e cirurgia, cá estou eu aguardando, contando os dias, as horas. Meu
marido tenta transparecer tranqüilidade deve ser pra me acalmar, mas no fundo
sei bem como deve estar se sentindo, tão nervoso como eu pra esse dia chegar.
Contagem regressiva... Até 10/09, às 18h30min, para confirmar
horário de internação. Não esperei. Nem bem chegou 16h, eu já tinha visto no
sistema as informações da minha cirurgia. Ufa! Que bom!
Me despedi de todos em casa, minha mãe estava bem nervosa e
apreensiva, não é pra menos, eu nunca sai de casa para algo desse tipo sem ela
estar comigo. Internei às 14h30min no ap. 475ª. O Julio me acompanhou em todos
os momentos, me ajudou a organizar minhas coisas no armário e gaveta. Saiu para
comprar jornal, palavras cruzadas, algo para se entreter, disfarçar a
inquietude e fazer passar o tempo sem que perceba. A enfermeira veio conversar
comigo, me fez algumas perguntas de praxe. Tiraram alguns sinais: pressão,
temperatura, batimento cardíaco. Me trouxeram um lanche, café com leite,
croissant, delícia! Devo aproveitar essas últimas refeições, vou demorar um
pouquinho para ter essas iguarias novamente. Trouxemos meu net book, configurei
e já me esbaldei fazendo algumas atualizações. Retirei uma amostra para o Banco
de Sangue. Jantei uma sopinha de legumes liquidificada e coada, após, bife,
nhoque com molho, arroz e salada de pepinos em fatias, veio até sagu como
sobremesa. O Dr. Manoel e equipe, Dr. Vinícius, Dra. Luize, vieram me ver,
examinar, tirar algumas dúvidas. Em seguida, a anestesista. Assistimos
televisão. Conheci algumas funcionárias da Unidade, que até então só conhecia
por telefone. Agora é dormir, que nada mais me resta.
Acordei cedo, perto de 5h, o Julio dormia mais tranqüilo. Em
seguida a técnica de enfermagem veio conferir meus sinais novamente. O Julio
buscou o café dele: uma lata de Coca Cola e um sanduiche, em seguida foi buscar
mais um suco e um pacote de salgadinho. Não é fácil, observar essa cena! Mas...
Faz parte! Vou aguardar meu café, hoje puramente líquido, “sem resíduos”, como
disse a enfermeira Vina.
Eu, Julio Cesar neste dia chuvoso, frio, vendo minha amada ir
para o bloco cirúrgico.. Vontade de chorar... No corredor. Segurei não poderia
demonstrar meu medo, minha angustia, vendo a mulher que amo indo para a
cirurgia... Bah! E agora o que faço,
almoço, espero familiares dela.. Tremendo de fome... Ligo, telefono... Aviso
pessoas conhecidas... Minha mãe... Minha sogra, minha cunhada Rosangela, meu
irmão Rodrigo... Estou sem rumo... Sem saber o que fazer ou aonde ir, só
pensando nela, minha amada. Como esta? Não
consigo resistir, entro num banheiro do hospital e choro, choro muito... Não
consigo controlar... Me sinto sozinho
abandonado..sem noticias dela. Chega às 20h...
Vou para frente da sala de recuperação
ansioso para ver minha Marivone... Me preparar para recebê-la no quarto... Levo
uma ducha de água fria: a médica
responsável me diz que ela só vai para o leito amanhã pela manhã... Vontade de
chorar, de invadir a sala de recuperação... Então a médica me deixa eu vê-la...
Me assusto quando a vejo com respirador e
outros aparelhos de ligados nela. Com a boca roxa, pálida. Tenho que resistir,
mostrar força para ela, mas sinto também que ela está tentando demonstrar para
mim que está bem. Não sinto isto. E agora, tenho que voltar para o
quarto sozinho, é a primeira vez que fico tanto tempo longe dela. Sem contato
nem telefone, nem mensagem. Sem rumo de novo. Penso em ir em casa, mas ai vou
preocupar o pessoal. Penso em ir para o meu irmão, mais perto. Mas também vou demonstrar
o que estou sentindo. Choro novamente... Sozinho pensando nela. Com dor... Sede...
Fome. Sei que era um desejo dela, mas
para que tudo isso? Agora é tarde, eu sozinho no corredor do hospital, quarto
andar, olhando para o infinito, chorando. Desculpa por tudo meu amor. Amo esta
mulher mais que a mim mesmo, não sei explicar o que está acontecendo comigo.
Continuo a relatar: após me encaminharam ao bloco cirúrgico,
sala de preparo após as 14h. o Júlio me acompanhou com as técnicas de
enfermagem. Me deu um beijo antes de dar entrada a sala de preparo. Fui
recebida pelo anestesista, Dr. Ronaldo Seligman que conversou comigo me
informando que já viria me buscar, estavam terminando os preparos da sala onde
eu haveria de fazer a cirurgia. Já na sala 13, me colocaram a touca nos
cabelos, e uma espécie de meia com compressão elétrica, isso serviria para
evitar trombose. Inspirei oxigênio e comecei a ficar sonolenta. Apaguei.
Acordei com a voz do médico me chamando e me dizendo que a cirurgia tinha saído
tudo bem, excelente! Eu sentia calafrios, ele me disse que isso iria passar.
Cobriram-me com cobertores e me deslocaram para a sala de recuperação, isso já
eram 19h. Sentia muita dor, enjôo, novas sensações. Tiraram meus sinais vitais,
o resto era aguardar. O Julio foi me visitar, eu deveria estar com uma
aparência horrível, cabelos desalinhados, pálida e com aparelhos de soro,
pressão, batimentos cardíacos e oxigênio ligados. Foi uma noite que parecia não
ter fim. Dormia, acordava. A cada vez que sentia vontade de urinar me colocavam
a “comadre”. Então me informaram que iria para o quarto pela manhã. Cheguei ao
quarto 8h45min, fui recebida pelo Julio com flores, me desejando boas vindas ao
meu novo mundo, minha nova vida. Meu filho, Rafael, minha nora Alessandra,
minha irmã Marilene e minha mãe. Começava a mudança, um dreno numa das aberturas
da cirurgia, quatro no total, nas próximas 24h no soro, sem alimentação. Recebi
a visita do médico, ligações, demais visitas de colegas, me incentivando a
recuperação.
Sexta feira, um copinho de 30 ml de chá de camomila,
alternado com suco de maçã e pêssego, de um em 1h, bebi vagarosamente de colher
em colher. Essa primeira refeição seria muito importante para verificar se não
teria rejeição pela quantidade. Um fisioterapeuta veio me avaliar e me orientar
em exercícios respiratórios para facilitar a recuperação, saímos para dar uma
volta pela unidade, eu com muita dificuldade pois o dreno doía um pouco. Duas
nutricionistas me visitaram para saber de idéias e gostos sobre meu cardápio
pós alta. Foi aumentado mais 20 ml de líquidos a minha dieta. Ao meio dia e às
18h, um caldo coado bem claro, cheiroso, bem quentinho, a melhor sensação que
poderia ter, imaginava como um banquete. Mais visitas, ligações. À noite,
quando a atendente injetou o antibiótico no soro, meu braço começou a doer sem
parar, aquilo me incomodou, chorei a ponto de ser chamada a enfermeira Jenice e
me esclarecer que precisava trocar o ponto de punção do soro. Seria uma busca
dolorosa por uma veia. Tenho uma dificuldade imensa num procedimento dessa
natureza, elas aparecem fininhas e desaparecem na mesma medida. Me disse que
daria um tempo pra ligar para o médico, e como eu estava tendo boa aceitação da
dieta líquida, não seria mais necessário me puncionar. Eu rezava pra que isso
acontecesse. Tanto o dreno quanto a veia com o soro me tiravam a mobilidade,
uma sensação bem desconfortável. Na metade da manhã, recebi a visita da
nutricionista responsável, Cigléa. Me trouxe as orientações finais com
sugestões dos cardápios dali em diante. Antes do meio dia, Dra. Luize me trouxe
a noticia que eu aguardava: minha alta hospitalar. Ligou para o Dr.Manoel e em
seguida me tirou a sonda. Senti uma dor que parecia me arrancar o estômago,
gritei, sabia que essa dor era inevitável, só não imaginava a intensidade dela.
O Julio desceu com o papel para formalizar a alta, aproveitou para comprar o
suplemento alimentar e as vitaminas que me foi indicado. Enquanto isso chegou o
Rafael, Alessandra e sua mãe Sonia, Julio e mais atrás, a Arlete minha colega
com sua filha Milene numa visitinha de “médico” como ela mesmo disse. Me
despedi do pessoal do posto de enfermagem. Terminamos de arrumar tudo e
seguimos para pegar um táxi rumo nossa casa.
Em casa, para começar o tratamento dos primeiros 20 dias, com
as orientações da nutricionista, formulamos um cardápio. Eis a realidade que eu
tanto esperava, agora não mais um sonho.
Uma semana se passou. Aos domingos, como é de costume,
churrasco, salada de maionese, pão com alho, cerveja. E eu com minha sopinha
liquidificada e coada que eu mesma faço. Fiz contato com a Cigléa, como não
tive rejeição, ela autorizou a não mais precisar coar a sopinha. Tenho horários
específicos, de 2 em 2h, portanto, chegou a hora, tenho que me alimentar. Os
sucos naturais tem me surpreendido, prefiro tomá-los sem adoçante. Melancia com
tomate então é muito gostoso. Acho que o sabor do Whey Protein de baunilha
deixa tudo um pouco enjoativo. Coloco a medida no leite desnatado, assim fica
melhor. A gelatina é outra coisa que me caiu muito bem, principalmente à noite.
Evito deitar do lado esquerdo, sinto um pouco de dor na região onde estava o
dreno. A cada dia que passa consigo caminhar melhor. Me olho no espelho, meu
pescoço deram os primeiros sinais de redução do peso, está mais fino. Meus pés,
sem aquele inchaço que era constante. É até engraçado, mas no banho senti a
maior diferença, com a esponja minha mão alcança parte das costas que eu não
conseguia alcançar. Segunda, dia 24, tenho consulta com Dr. Manoel para revisão
e tirar os pontos. Vou me pesar e tirar algumas dúvidas.
Na consulta, minha
satisfação ainda duplicou. Me pesei, 99,1kg. Aproveitei para tirar uma foto com
ele. Me disse que estou muito bem, a cicatrização excelente. Minha redução de
peso será cada vez mais visível. Minha próxima consulta será em 16 de outubro.
Saímos eu e o Júlio, era visível minha felicidade. Passamos no supermercado
para comprar algumas coisinhas. Quando retornar ao trabalho, terei que carregar
um kit básico, afinal não posso descuidar da minha alimentação. Fiz um
comentário que o Júlio se impressionou: quando passei na roleta do ônibus, não
precisei me encolher, isso foi o máximo!
Liguei para a Ciglea, precisava saber se poderia acrescentar
caldo de lentilha, ervilha, feijão para complementar a sopinha. Aprovado.
Retornei ao trabalho dia 26/09. Levei comigo suco, água de
côco, iogurte Activia em embalagem de 200ml, minha inseparável sopinha para
liquidificar, isotônico. Tive consulta para ser liberada para trabalhar
momentos antes. Tudo certo, estava na hora de encarar mais uma etapa da
realidade. O dia a dia com horários que não fossem controlados em casa. Notei
minha língua com aspecto esbranquiçado, parecia estar com a saliva mais grossa
no fundo da boca.
Os almoços regados a frangos assados, churrascos, saladas
variadas, pão com alho, cerveja, não me abalam. Parece incrível que isso
poderia acontecer. São coisas que adoro, mas meu psicológico está me ajudando
muito nessa adaptação. Eu sei o que é bom pra mim, sei o que devo, o que não
posso ingerir. Essas coisas sempre tive controle, e agora não seria diferente.
Pois tudo devo levar em conta. É interessante, as pessoas vêm falar comigo, e
me fazem sempre as mesmas perguntas, e eu tenho sempre as mesmas respostas: “Eu
sei o gosto de tudo, por isso, o que eu gostava de comer, o que eu estava
acostumada, não me faz falta, com exceção do pão, o cheirinho dele é impossível
não lembrar o sabor. Mas tudo isso é por um tempo, um longo tempo, eu sei, vou
voltar a comer em partes bem fracionadas e moderadas”.
O Julio trocou a bateria da balança que temos em casa, dessas
digitais. Assim posso controlar mais de perto meu peso diminuindo dia após dia.
Tive enjôos pela primeira vez. Foi à noite após a janta. Acho
que engoli muito rápido. Preciso controlar isso, para não se tornar freqüente.
Me pesei e notei que o peso não variava. Decidi fazer isso
uma vez por semana, pra não me gerar uma neura. Vou me ocupar com outros
pensamentos.
Algumas roupas já consigo notar a diferença. Isso é muito
bom. O fato de vesti-las com mais facilidade, calçar as meias, botas, abaixar
para amarrar os tênis, são detalhes importantes, não dá pra ignorar.
Hoje fiz contato com a Ciglea. Meus 20 dias de dieta líquida
estão no fim. A partir de agora passarei para pastosa. Serão acrescentados
alguns itens. Vai me passar por e-mail. Aguardo ansiosa. Fiz contato com equipe
do Prof. Manoel, Dr. Giovane, para tirar algumas dúvidas. Falei de uma ardência
que tenho na barriga localizada abaixo do seio esquerdo, da minha língua
esbranquiçada, do peso estável em 6kg. Me respondeu que a ardência seria de um
nervo próximo a parte do estômago que foi operado que estava se ajustando ao
organismo. A língua, me informou que tentasse escová-la que sairia esse branco aos
poucos, era o fato de ainda não estar mastigando. Quanto ao peso, a média de
perda seria de 5 a 6 mensais nos primeiros 6 meses, algo bem dentro do padrão.
Sendo assim, está tudo dentro dos conformes.
Hoje, 03/10/2012, fazendo 22 dias da cirurgia, recebi por
e-mail da Ciglea, a minha nova etapa. A fase da alimentação pastosa. Vibrei só
de ler. Tem além de outras coisas, 1 fatia de pão light em duas das refeições,
eu que estava sentindo tanta falta vou poder comer, claro que com moderação.
Tem picolé, sorvete, bolacha água e sal, hum... Carne fracionada... E por aí
vai. Tenho que ir às compras. Amanhã darei início.
Ocorreu tudo melhor que o esperado. Meu café da manhã foi com
uma fatia de pão integral, saboreada com muita calma, pedacinho por pedacinho. Meu
almoço levei um bife bem pequenino, menor que a palma da mão todo cortadinho
como se fosse dar pra um bebê, mais uma colher de arroz, e como sobremesa,
gelatina de uva. Nossa, foi bom demais. Refeições a cada 3h e bem tranqüilas.
Minha surpresa se deu no sábado, dia 6/11. Tinha ido ao
supermercado pela manhã, e como dava tempo de almoçar em casa, servi um bifinho
sem molho, picotei, com um pouco de arroz. Tudo certo. Ledo engano estava
afobada, precisava de mais tempo pra degustar esse prato. Acabei por não
mastigar o tempo que deveria, começou a me dar uma sensação estranha. Parei de
comer. Vomitei. Não comi mais nada. Levei a gelatina para o trabalho, assim
teria um tempo pra me restabelecer. Fiz errado? Muito, eu sei. Mas não tive
como fazer diferente. Fiquei enjoada. São coisas que preciso me acostumar.
Mastigar várias vezes, com calma, sem pressa alguma. Deixar o alimento o mais
moído possível. Agora cada vez que sirvo algo, me lembro da cena. Isso me
marcou muito. Provei uma porção de sorvete light de maracujá. Foi bom, mas
estranho o gosto doce. Eu que adorava um docinho, chocolates, bombas de creme,
rapadurinhas. Isso agora não faz mais parte, e não me faz falta.
A semana transcorreu tudo normalmente. Na quinta-feira, dia
11/10, resolvi dar uma mudada no visual. Marquei horário e fui cortar meu
cabelo. Sei que meu cabelo vai cair um pouco, então resolvi antecipar cortando,
pra ir me acostumando com a ideia. Até chegar lá, quem sabe não corto
novamente? No domingo após o almoço, provei um pedaço de doce de abóbora que
minha mãe fez. Um pedacinho, não estou liberada para doce, mas experimentei,
não enjoei, mastiguei bastante, nada demais. Hoje, dia 15/10 a secretária do
Dr. Manoel me ligou e adiou minha consulta para 17/10. Vou conversar, tirar
algumas dúvidas e me pesar. Provavelmente irá me liberar pra exercícios
físicos. Estou louca pra começar minhas caminhadas.
Hoje, dia 17/10, consulta. Sai do serviço às 16:20, pensei
melhor e resolvi fazer o trajeto à pé até o consultório. Foram algumas quadras,
com uma subida que antes da cirurgia não teria conseguido chegar ao fim sem
estar ofegante. Foi bem tranquilo. Me distrai olhando vitrines até chegar ao
prédio. Subi, aguardei minha chamada. Fui recebida com certo ar de surpresa
pelo Dr. Manoel. Estava ansiosa por me pesar e saber quanto já havia perdido.
Estava a 35 dias da cirurgia, passou rápido. Antes de mais nada, na balança
evitei olhar os números, minha curiosidade teve que se conter. Mas para
felicidade, ele me parabenizou. Ao total, se foram quase 10kg. 95,3 marcava a
balança digital. Examinou as cicatrizes, perguntou sobre minha alimentação, se
tinha vomitado alguma vez. Expliquei quando tinha me acontecido, por dois
momentos. Um por não mastigar direito e outro por ter ingerido rápido demais.
Conversamos um pouco e me liberou para caminhadas. Perfeito. Terei consultas
mensais, até que no 3º mês farei alguns exames para comprovar que está
realmente correndo tudo nos conformes.
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